segunda-feira, 11 de maio de 2009


Coletiva do governador Aécio Neves
Evento: Encontro com empresários na Casa de America
Local: Madrid - Espanha
Data: 05/05


Por que o senhor quer ser presidente do Brasil?
A Presidência de qualquer país não pode ser um ato de vontade pessoal. Eu quero participar de um projeto novo no Brasil. De uma nova convergência. Acho que o Brasil cansou da radicalização, da polarização que está aí hoje e temos uma agenda a ser vencida, que não será vencida com a continuidade desse radicalismo.
O meu papel hoje na política brasileira é ajudar a construir, o que podemos chamar de uma nova concertação. Posso ser candidato? Sim, se houver uma convergência natural nessa direção, mas continuarei como governador, ou outro posto, ajudando o Brasil a superar essa radicalização que ainda existe hoje. Não trabalho a possibilidade de ser presidente com uma obsessão, mas eu quero ajudar o Brasil a construir uma nova agenda que, infelizmente, mesmo com momentos muito positivos nos últimos cinco ou seis anos por que passou a economia internacional e com consequências muito positivas no Brasil, não conseguimos vencer porque a radicalização política prevaleceu.

Tem setores do seu próprio partido que ainda está nesta radicalização. O senhor está confortável no seu partido?
Todos os partidos têm pessoas que pensam de forma diferente senão não seria um partido político. Acho até que nós do PSDB temos menos divergências do que em outros partidos. O que eu tenho defendido dentro do PSDB, na prática isso ocorreu nas últimas eleições municipais, é que haja uma aproximação maior entre aqueles segmentos políticos brasileiros que tenham pensamentos mais próximos. Eu me sinto confortável no PSDB, mas o que eu tenho insistido é que o PSDB, diferente do que ocorreu em outras eleições, não tome suas decisões na sua cúpula por duas ou três figuras porque isso pode nos levar aos últimos resultados que não foram favoráveis.
Eu vejo as primárias do partido, que nós chamamos de prévias, mas podem ser chamadas de primárias, como um extraordinário momento não só apenas para se escolher quem será o candidato, mas de mobilização do partido, de reencontro do PSDB com setores da sociedade brasileira que já estiveram muito próximos a nós, mas que se afastaram do PSDB durante o período que nós fomos governo e mesmo depois. E além disso, essas primárias poderiam ser o grande momento do PSDB mostrar à sociedade brasileira o que o diferencia do governo que está aí. Para a maioria das pessoas, depois dessa guinada, dessa mudança de posicionamento do PT, onde ele assume os nossos pressupostos macroeconômicos, Lei de Responsabilidade Fiscal, enfim, há na maioria das pessoas no Brasil pouca capacidade de discernir onde estão as diferenças. E as primárias, essas discussões regionais, podem possibilitar ao PSDB eleger três ou quatro grandes bandeiras que nos conduzirão à Presidência da República, qualquer que seja o candidato.

O PT e o PMDB estão fazendo uma aliança onde está uma candidata do PT e um vice do PMDB. Que espaço ficaria para o PSDB num cenário deste? Ele corre o risco de ficar empurrado para essa radicalização que o senhor critica?
O PMDB e alguns outros partidos, hoje, participam da base de apoio do Governo Lula, participam do governo do presidente Lula. Mas não participarão necessariamente de uma candidatura do PT. No caso específico do PMDB, o PMDB é possível até que esteja numa aliança nacional com o PT, mas é muito provável que esteja em alianças regionais conosco. A legislação brasileira, infelizmente, hoje, permite que um partido se alie a uma determinada força política num plano nacional e a outra força de oposição no campo regional. O PMDB, por exemplo, pode estar aliado conosco em Minas Gerais, com o governador Serra em São Paulo e com o presidente Lula no plano nacional.
O que eu poderia dizer é o seguinte: o PMDB hoje é um partido imprescindível à governabilidade. Eu não sei se o PT ou o PSDB vai ganhar as eleições, mas eu garanto que o PMDB vai estar no próximo governo.

Vocês vão tentar conseguir o apoio do PMDB?
Temos conversado com setores importantes do PMDB e não tenho dúvida de que uma parcela importante do PMDB estará conosco em razão das alianças regionais porque, em alguns estados, o PMDB é oposição ao PT e não tem como mudar isso na véspera das eleições. Eu acho que o PMDB estará nessas eleições, muito provavelmente, dividido, e depois das eleições, ele será imprescindível à governabilidade enquanto tivermos um quadro partidário tão pulverizado quanto esse que existe no Brasil.
E acrescentando ainda, acredito que algumas outras forças políticas que hoje apóiam o governo do presidente Lula, como o PSB, o PDT e alguns outros partidos, podem estar ao nosso lado nas eleições.
Por exemplo, na minha base de apoio, em Minas Gerais, o nosso candidato ao Governo de Minas terá o apoio de vários partidos que hoje estão na base do presidente Lula, mas no campo regional não têm como deixar de estar conosco porque estão conosco há oito anos.
Essa vai ser uma característica dessas eleições, uma pulverização, uma divisão dos partidos. Vários outros partidos terão em determinados estados forças políticas apoiando a oposição ao presidente Lula e outras apoiando o presidente.

Qual será a sua estratégia? Que papel?
Gostaria de contribuir ajudando a construir essa nova agenda do Brasil, agenda que eu chamo de pós-Lula. Posso ser candidato à presidência? Posso se houver uma convergência, se houver uma naturalidade nessa caminhada. Mas se não for, quero ajudar a definir quais serão essas novas bandeiras e posso aqui dizer algumas delas.
Com relação, por exemplo, às políticas assistenciais. O Bolsa Família é hoje um instrumento importante de distribuição de renda, mas não pode continuar sendo que tem sido no governo do PT, o final da linha, o fim do projeto. Precisamos qualificar essas pessoas, que hoje dependem exclusivamente das políticas assistenciais, para reinseri-las no mercado de trabalho, qualificando-as para atividades que sejam compatíveis com as oportunidades de trabalho em cada uma das regiões brasileiras.
Não temos hoje políticas de desenvolvimento regional claras para o Nordeste brasileiro, para o Centro-Oeste brasileiro. É preciso que sejam definidas essas políticas regionais. Acho que temos uma política externa hoje com um viés mais ideológico do que visando os interesses reais do Brasil e acho que isso alterado. E a questão da gestão pública de qualidade, gestão pública profissionalizada, com metas a serem alcançadas e isso não foi visto pelo Governo Federal até aqui.
Então, acho que o meu papel hoje é, a partir dos exemplos de Minas Gerais, dos resultados que alcançamos em Minas, mostrar que o setor público, ao contrário do que muitos acreditam, se tem métodos, se tem profissionalismo, se tem pessoas qualificadas, pode ser eficiente. O setor público não precisa ser eternamente ineficiente como alguns de nós passivamente concordamos.
O meu papel hoje não é apenas o de lutar por uma candidatura, mas o de lutar por uma nova convergência nacional e por uma nova agenda pelo Brasil. Se isso vier a derivar para uma candidatura, muito bem, senão, eu continuo lutando por essas bandeiras.

Privatização e desestatização de serviços.
Acho que no Brasil, o que podia ser privatizado, com exceção ainda de algumas rodovias, já foi privatizado. Acho que setores importantes como o setor de telefonia, com o setor de siderurgia, mineral, que não são setores afins e não necessariamente tenham de ser conduzidos pelo estado, já foram privatizados.
O que eu falo agora é de profissionalização do setor público. Um exemplo objetivo, citando mais uma vez Minas Gerais, para hoje ocupar um cargo de administração na área da saúde ou da educação em Minas tem que passar por um processo de qualificação, feito não pelo governo, mas pela Universidade Federal, para que pessoas estejam aptas a prestar determinados serviços. É um processo absolutamente novo que estamos construindo no Estado, com o objetivo de criar uma burocracia profissionalizada, uma ascensão na carreira com salários dignos, acho que isso pode ocorrer a nível nacional também. Temos bons exemplos em Minas, que vão na linha oposta ao grande aparelhamento da máquina pública que ocorreu no governo do PT. Aparelhamento feito pelos aliados ligados ao partido e acho que o Brasil precisa romper esse ciclo e trocar o aparelhamento da máquina pública pela profissionalização.

A China já é o maior parceiro comercial do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos, mas numa relação assimétrica. A China vende muito mais para o Brasil do que o Brasil para a China, com relação à variedade de produtos. O Brasil vende muita soja, mas está comprando muito sapato, muita calça. O Brasil está alterando a sua diplomacia nos últimos anos.
Acho que o Brasil, de forma correta, diversificou sua pauta de exportações e a qualidade do que exporta. Agregou valor, o que não tínhamos antes. Não somos apenas exportadores de commodities hoje, agregamos valor ao que exportávamos, somos hoje um grande exportador de automóveis.
Há doze anos, 24% do nosso comércio exterior eram com os Estados Unidos, hoje esse número já caiu para 13%. O que, inclusive, neste momento de crise, para nós é positivo. Essa diversificação da pauta de exportações do Brasil foi extremamente importante e nós em Minas Gerais estamos fazendo um grande esforço de agregação de valor àquilo que temos produzido no Estado, no campo da biotecnologia, de softwares, na indústria automobilística, onde somos líderes no mercado interno, no setor têxtil, onde conseguimos inclusive competir com a China.
Acho que o Brasil avançou ao descentralizar seu comércio exterior, mas acho que temos um papel enorme, um espaço enorme para crescer, inclusive, há uma tendência de que a América Latina tenha no Brasil o seu principal destino comercial, em muito pouco tempo, pela ação estratégica que o Brasil vem desenvolvendo junto a esses países.

O Brasil será o líder da América Latina?
Já é do presente e será no futuro para o mundo. Há uma nova construção hoje da política mundial. Hoje, alguns países emergentes, e eu citaria o Brasil, a China, a própria Índia, são países que passam a ser vitais nas negociações que antes eram conduzidas exclusivamente por oito países.
Há uma nova construção da ordem política internacional e, nesta construção, o Brasil tem a meu ver um papel absolutamente definitivo. Não é possível mais pensar em mudanças, por exemplo, no sistema financeiro internacional, ou mesmo discussões comerciais de largo alcance, sem as presenças de outros quatro ou cinco importantes atores. Essa é a mais profunda e irreversível transformação no nosso tempo acontecida na economia internacional.

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